Já, alguma vez, imaginaste o que pensariam os jovens adolescentes no pós 25 de Abril?
Vivendo numa época de crise económica, agravada por um processo revolucionário, será que as suas dúvidas, angústias e preocupações seriam muito diferentes das actuais?
(Lembra-te que, naquela altura, poucas famílias tinham telefone e os jovens não podiam comunicar por telemóvel nem enviar SMS)
Se leres o excerto de Cecília Barreira que te apresentamos, vais ter algumas surpresas!
De 1974 a 1994 muito se alterou em termos de mentalidades e quotidiano.
(...) Os jovens, entre 1974 e 1977, viveram sensivelmente uma euforia revolucionária que atravessou toda a sociedade portuguesa e que mobilizou as pessoas para uma outra escala de valores e de representações sociais de que estiveram arredadas até aí. A contestação da ordem estabelecida pelo regime salazarista, posteriormente o marcelista, levou a que a sociedade civil se insurgisse contra os discursos conservadores, as grandes hegemonias, «Pátria, Família, Autoridade», e as normatividades relacionadas com o regime anterior. A sociedade pré-25 de Abril não conhecia a verbalização: era uma sociedade fechada, estranhamente imersa em si própria, ensimesmada. O 25 de Abril faz emergir a fala como processo catártico face a um silêncio de decénios, onde a vida privada e a esfera pública eram mantidas em secretismo.
Em 1977, numa sondagem colectiva a jovens entre os 15 e os 21 anos, traça-se o perfil do adolescente pós-25 de Abril. A política, o convívio, e a literatura são os interesses mais marcantes dessa geração. De repente, dos marxismos aos leninismos, passando pelos socialismos, a sociedade portuguesa iniciou um diálogo com a esfera política, até aí um dos maiores tabus do regime salazarista. As manifestações sucedem-se a um ritmo avassalador e a sociedade civil habitua-se a verbalizar a revolta, o inconformismo, a repulsa ou a adesão a causas, experienciando emoções nunca antes vividas. Há um lado pulsional e emocional no modo como se vive a esfera política e social que marca profundamente o 25 de Abril: são as famosas campanhas de alfabetização, que alastram pelo País fora; as campanhas cívicas do MFA; os partidos políticos, cada qual fazendo-se eco de múltiplas mensagens. A sociedade sofre um processo de ideologização, onde mesmo os que se dizem a-políticos e apartidários tomam uma posiçao definida.
Curiosamente, na mesma sondagem aos jovens, em 1977, os principais problemas que os afectavam eram o espectro do desemprego, a droga, a falta de saídas profissionais, a delinquência e a falta de recursos económicos. Nas relações pais-filhos, os jovens queixam-se de autoritarismo exercido pela autoridade parental.
As canções políticas, quer portuguesas, quer brasileiras ou oriundas da América Latina, têm nessa época o auge da difusão e da popularidade. Vestia-se ganga e não se usava gravata, como fórmula abreviada de vestuário.(...)
in Barreira, Cecília, Os Estilos De Vida E Convívio Quotidiano, Portugal 20 Anos de Democracia, Círculo de Leitores
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