O Liberalismo e a Questão Brasileira

Divulgação do trabalho realizado no âmbito da Acção de Formação "O Liberalismo e a Questão Brasileira", orientada pelo Doutor Paulo Gonçalves
O principal motivo que me levou a escolher esta acção de formação foi, desde logo, o tema em questão, quer pela sua actualidade, quer pela sua especificidade, (um tema pouco estudado e menos conhecido). (...)
2 – Expectativas iniciais em relação a esta acção
As minhas expectativas iniciais em relação a esta acção eram aumentar os meus conhecimentos, explorar um tema, para mim pouco conhecido, descobrir novas formas de abordagem do tema em contexto sala de aula, ter acesso a bibliografia sobre o assunto, debater e partilhar ideias, produzir, experimentar e divulgar experiências de práticas lectivas e de materiais didácticos que viessem a ser produzidos, por mim e pelos outros formandos.

3 – Envolvimento pessoal na acção tendo em vista os objectivos
(...) Passou-se à introdução do tema, e recordaram-se os primeiros passos dos liberais portugueses e das suas fontes inspiradoras, retrocedendo ao século XVIII.
Foi feita também uma chamada de atenção à Questão Brasileira.
Os liberais vintistas, seguindo os seus ideais, quiseram incluir nas Cortes representantes de toda a Nação, no entanto, estes deputados, nomeadamente os das terras do Brasil, vieram trazer graves problemas ao funcionamento das Cortes, à propagação das ideias liberais, ao colonialismo estabelecido e, inclusive, fazer com que os próprios liberais da metrópole entrassem em contradição com as ideias que defendiam e pretendiam implementar e se fragmentassem, segundo eram mais ou menos a favor da separação e, mais tarde, independência do Brasil.
Foi feita uma referência à vertente pedagógica dos discursos dos liberais vintistas, aos princípios da Constituição, à própria Constituição de 1822 e às Cortes Constituintes de 1821-1822, onde os deputados “brasileiros” estiveram presentes.
Introduziu-se o tema do Movimento Independentista Brasileiro e referiram-se as marcas da presença brasileira na Corte, a figura do Regente e futuro rei, D. João VI, de José Bonifácio de A. e Silva, do príncipe D. Pedro e do seu filho.
Analisou-se um esquema sobre as Cortes Constituintes e o Brasil, as suas linhas orientadoras e a sua complexidade.
Na segunda sessão, fez-se referência ao termo “Regeneração” e às suas diferentes acepções. Por um lado, conciliador, utilizado pelos vintistas, recuperando algumas “boas” ideias do passado, como a consulta ao povo e por outro, utilizado pelos adeptos do Antigo Regime, como a recuperação pura e simples dos antigos costumes.
Na terceira sessão, falou-se do grande momento histórico que foi a primeira experiência parlamentar em Portugal, dos discursos inflamados dos seus deputados e, também, do movimento constitucional no Rio de Janeiro.
Abordou-se o que entretanto se tinha passado no Império Português, as Invasões Napoleónicas, a Corte do outro lado do oceano, Portugal a ser dominado, primeiro pelos franceses, depois pelos ingleses e sujeito à condição de metrópole, enquanto que no Brasil, sucedia o oposto, o Rio de Janeiro passava a capital do Reino.
Os “brasileiros” passam a estar receptivos a uma ideia simbólica de Reino Unido, não abdicando da sua emancipação política e económica e dá-se a ruptura entre os Vintistas, que vêem as suas ideias abaladas pela trágica situação que Portugal iria sofrer se esta situação fosse avante.
Foi feita uma análise comparativa entre a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826 em termo de Direitos Individuais.
Retomou-se o tema do Rio de Janeiro, onde viviam o Rei e o Príncipe e onde chegavam as notícias do que se passava em Portugal. Através do decreto de 18 de Fevereiro, o Rei vai tentar evitar que as ideias liberais se propaguem no Rio, o que vai dar origem a uma série de acontecimentos que vão provocar forte instabilidade nessa cidade.
D. Pedro assume cada vez maior protagonismo e, quando D. João VI regressa a Portugal, passa a ser Príncipe Regente, contrariando as intenções das Cortes.
As Cortes vão tentar dividir os “brasileiros” desarticulando as suas províncias e agudiza-se a situação vivida no Rio de Janeiro.
D. Pedro governa com amplos poderes, as notícias chegam demoradamente às Cortes e em diversas províncias do Brasil geram-se hostilidades em relação à figura do Governador.
D. João VI, quando regressa a Portugal, ainda antes do desembarque, jura as Bases da Constituição e dão-se “Vivas ao Rei Constitucional”.
O discurso do Rei não é bem recebido pelos Vintistas que consideram ir contra o principio de que o poder legislativo é “UNO e INDIVÍSIVEL”.
Os deputados do Brasil começam a chegar a Portugal (metrópole) em 1821. Os de Minas Gerais defendem a separação e recusam-se a participar nas Cortes e os de S. Paulo vêm marcar posição, instruídos por José Bonifácio.
Na quarta sessão fez-se uma referência à abordagem que se costuma fazer aos alunos do 2º ciclo, do estudo comparativo entre Absolutismo e Liberalismo.
A evolução do que se passou nas Cortes com a chegada dos primeiros deputados brasileiros, a forma como foram recebidos, as mudanças que se foram operando nos deputados portugueses em relação aos primeiros, o surgir das hostilidades e a legislação de 1822, também foram amplamente discutidas.
Problematizou-se a questão da assinatura e não juramento da Constituição dos deputados do Brasil, as propostas de leis apresentadas por estes, as publicações de jornais da época. (material que também pode ser usado em contexto sala de aula, com ou sem adaptações)
As graves dificuldades de comunicação e os problemas que daí surgiam, leis desadequadas à situação, desajustadas aos acontecimentos e, na maior parte das vezes, completamente intempestivas, foram também exploradas com casos concretos.
Foi-nos fornecida informação bibliográfica, da qual cito, apenas, os títulos: O Brasil e as Colónias Portuguesas, Cronologia da Construção do Brasil, Silvestre Pinheiro Ferreira: Ideologia e Teoria.
Analisou-se o Manifesto Paulista, a formulação de uma política de entendimento e o parecer de 18 de Março de 1822 e gerou-se um debate sobre o que poderia ter acontecido em relação aos dois reinos se as condições e/ou as vontades tivessem sido outras.
Na quinta sessão, comentamos o decreto que extingue os tribunais no Rio de Janeiro, publicado no Diário das Cortes.
Em contexto sala de aula, outro trabalho comparativo que se pode fazer em articulação com Língua Portuguesa, é um registo da nomenclatura usada nessa época e que ainda persiste ou foi modificada na actualidade, por exemplo, “Diário das Cortes”, “Diário da República”, “Cortes”, “Parlamento”, ou as formas de tratamento e de cortesia (ou descortesia) usadas pelos deputados.
Continuou-se a fazer o estudo dos projectos de decreto de várias leis e das implicações que elas originavam no Brasil, das discussões que provocavam nas Cortes, quer entre deputados portugueses/brasileiros, quer entre brasileiros/brasileiros, bem como as posições dos conciliadores.
A morosidade das notícias oficiais, de um continente para outro, era ultrapassada pelas novidades transportadas a bordo dos navios comerciais; quando as leis chegavam ao Brasil, já os brasileiros estavam em rebelião contra elas.

No decorrer da Revolução de 24 de Agosto de 1820 até finais de 1821 a “política brasileira” dividia-se em três correntes de ideias: uma, pro-europeia que defendia a união numa base constitucional, um partido de composição mais aristocrática, composta por senhores de engenho e burocratas adeptos da emancipação política e económica, mas numa base de liberalismo moderado bicamaral, uma corrente de cariz mais democratizante, republicana, defendendo a máxima autonomia de cada província.
Nas províncias do Sul, a contestação aos decretos de Setembro de 1821 organiza-se em torno da Junta de S. Paulo que preconiza uma independência que institucionalize um constitucionalismo moderado e nas restantes províncias verifica-se uma contestação mais moderada e hesitante. A “Questão Brasileira” entra na segunda parte do seu processo de emancipação com a acção da Junta de S. Paulo junto do Príncipe, em Dezembro de 1821 e, quando estas notícias chegam às Cortes, os deputados tomam consciência que já não podem sujeitar o Brasil à condição de colónia. A Deputação Paulista chega a Portugal com um plano de acção coerente, articulado com a Junta Provincial, defendendo um Reino Unido mas que salvaguardasse a união do Brasil e a sua integridade nacional, a igualdade política entre ambos os reinos e que a sede da monarquia devia ser, alternadamente, ou em Portugal ou no Brasil. A regulamentação do comércio, a representação no Congresso, a existência de um Governo Geral, entre outras coisas, faziam parte do seu plano.
O artigo 94 da Constituição foi alterado e a sua redacção final passou a ser “Cada deputado é procurador e representante da Nação e não o é somente da divisão que o escolheu”.
Precursor dos novos tempos José Bonifácio propõe uma capital no centro do Brasil. Paralelamente, em Portugal, Manuel Fernandes Tomás, outro grande protagonista destes acontecimentos, propõe que Portugal “desista” do Brasil e aponta o caminho da África.
A Baía é o último baluarte da presença portuguesa.
(...)Foi analisado um esquema das Cortes e dos acontecimentos marcantes provocados pelo Manifesto Paulista e divulgada a Lista de deputados da Metrópole e Colónias.
Fez-se um resumo das instruções Paulistas, focando os pontos mais importantes e salientou-se, mais uma vez, a figura de José Bonifácio, no que toca ao seu importante papel na defesa da civilização índia e às suas ideias anti-esclavagistas, o que o levou a ser posto em segundo plano apesar de ter sido o Número Um da Independência do Brasil.
Face à rebeldia paulista levantam-se as vozes dos deputados que criticam a sua agressividade. Lemos e interpretamos alguns, como o de Manuel Fernandes Tomás e de Borges Carneiro.
Equacionou-se toda a polémica gerada, na época, exigindo uns a punição imediata dos autores do manifesto e retirando a lucidez a outros para agir com clareza.
O Acto Adicional faz-se num clima de crispação. Surgem notícias contraditórias sobre os acontecimentos e quando D. Pedro recebe a ordem de regressar a Portugal pronuncia “Fico” o que contribui para uma situação cada vez mais fracturante.
A independência do Brasil vai pôr fim ao Vintismo.
O Acto Adicional foi analisado, quem o inspirou, quem o redigiu, propostas mais importantes e a polémica que gerou a sua discussão, a defesa feita pelos deputados brasileiros baseados no exemplo parlamentar inglês e na independência dos Estados Unidos e o resultado da votação (87 votos contra 27).
Bibliografia: História do Brasil, Armitage, João, Editora Universidade de S. Paulo
A sétima sessão iniciou-se com a apresentação do livro “A Cidade e os Políticos” de Zilda Osório de Castro.
Foi focada a posição de Borges Carneiro e de Ribeiro de Andrada.
Partiu-se para a exploração da Contra-proposta apresentada pelas Cortes, pela situação que se vivia no Brasil e pelas decisões que D. Pedro ia tomando e que culminam no célebre ”GRITO do IPIRANGA”
A vida dos deputados e dos estudantes brasileiros, em Portugal, torna-se cada vez mais complicada e alguns têm de fugir para salvar a pele.
Fez-se um estudo dos representantes do Brasil, os que foram eleitos e os que tomaram assento e a comparação com o número de deputados eleitos por províncias como, por exemplo, o Minho; os que tomaram assento, os que assinaram e os que juraram a Constituição.
Recorrendo à imprensa da época foi feito o balanço da Constituinte.
Cronologia:
7 de Setembro de1822 – Grito do Ipiranga
12 de Outubro de 1822 – D. Pedro é aclamado Imperador do Brasil
1825 – D. João VI reconhece a Independência do Brasil
Ultima sessão, reservada para a produção e apresentação de material didáctico.
Contexto sala de aula
(alunos de 5º e 6º anos de escolaridade)
Desde a primeira sessão, conseguimos ter acesso a conhecimentos que podemos utilizar em contexto sala de aula e em articulação com outras disciplinas como Língua Portuguesa e Formação Cívica.
Nomeadamente, depois de ter sido feita a abordagem do liberalismo vintista, na aula de História e analisados os princípios da Constituição e explorado alguns dos seus artigos, na disciplina de Língua Portuguesa fazer a leitura de extractos de discursos de deputados da metrópole e do “Brasil”, seguidos de debate e na disciplina de Formação Cívica explorar os artigos da Constituição de 1820 em comparação com os da Constituição de 1976, no que concerne a direitos e deveres ou a direitos humanos (abolição da escravatura, pena de morte, penas corporais.
Abordar o dever cívico, demonstrado pelos representantes do Brasil nas Cortes, que enfrentaram tão duras e longas viagens para o poderem cumprir e compará-lo com os valores da abstenção dos eleitores ou o absentismo dos deputados no Parlamento.

Olinda Maria Palmeira de Araújo Campos

Teixeira de Pascoaes_ POETA


Certamente desconhecias que um dos grandes poetas portugueses foi TEIXEIRA de PASCOAES.

Em sua homenagem lê o que ele escreveu sobre os portugueses e o ser humano.


«O Português é indeciso e inquieto, como as nuvens em que as suas montanhas se continuam e as ondas em que as suas campinas se prolongam.»



« Todas as almas são igualmente perfeitas.»


«Cada homem é a medida do Universo.»


«O homem é um animal apaixonado.»

A MOEDA NA I REPÚBLICA _ O ESCUDO


Quanto à moeda, a República começou com uma reforma nominal, procurando colocar a unidade monetária portuguesa no mesmo nível das dos outros países da Europa (...) Em 1911, o Governo Provisório ( gerência José Relvas) introduziu o escudo, equivalente a 1000 réis e dividido em 100 centavos.


A lei criava moedas de ouro de 10, 5, 2 e 1 escudos (que nunca chegaram a ser cunhadas), moedas de prata de 1 escudo, 50, 20 e 10 centavos, e moedas de bronze de 4, 2, 1 e 1/2 centavos (esta última também nunca emitida).


in Marques, A. H. de Oliveira, HISTÓRIA de PORTUGAL


Livros com História _Exposição Bibliográfica







Na biblioteca da E.B 23 Bernardino Machado está a decorrer a exposição bibliográfica LIVROS COM HISTÓRIA, subordinada ao tema "A I REPÚBLICA PORTUGUESA".



Se quiseres saber mais sobre a famosa data de 5 de Outubro de 1910 e conheceres melhor os livros da tua biblioteca, NÃO DEIXES DE A VISITAR!



CONTAMOS CONTIGO.

Dia Mundial da Música - Viana da Mota


Para comemorar o Dia Mundial da Música vamos divulgar a biografia de um compositor contemporâneo da I República, "Viana da Mota".


Durante a I República, "A música teve certo florescimento, em comparação com o século XIX. Viana da Mota (1868-1948) que estudara no estrangeiro, foi nomeado director do Conservatório de Lisboa, criando escola e produzindo ele próprio algumas peças de boa qualidade."
A. H. de Oliveira Marques


José Viana da Mota (ou Vianna da Motta, conforme a ortografia vigente na sua época) marcou o curso da história da música em Portugal em dois aspectos fundamentais. Por um lado, formou várias gerações de pianistas portugueses, fundando uma escola interpretativa que se prolonga até aos nossos dias. Por outro lado, foi um dos primeiros compositores empenhados no “reaportuguesamento” da música erudita, na afortunada expressão de Afonso Lopes Vieira. Utilizou a música tradicional e a poesia culta portuguesas nas suas obras, fazendo parte da geração que transformou Camões em símbolo da nação. A abertura Inês de Castro, baseada na versão narrada no poema épico Os Lusíadas é exemplo desta exaltação camoniana, assim como a Sinfonia à Pátria, a sua obra mais conhecida, cujos andamentos são precedidos por epígrafes retirados do mesmo poema. Para Viana da Mota, a “expressão para o sentimento da nação” era o objectivo mais alto ao qual devia aspirar a composição. Nascido em São Tomé em 1868, veio falecer em Lisboa em 1948. A sua dilatada carreira esteve repleta de sucessos, mas também sofreu penalidades pessoais e profissionais. Estas últimas, porém, nunca alteraram a sua imagem de artista “sóbrio, ponderado, inteligente, calmo, clássico”, nas palavras do compositor, seu discípulo, Fernando Lopes-Graça.
De Lisboa para Berlim
Nascido no seio de uma família da burguesia – o pai era farmacêutico e músico amador – José Viana da Mota mostrou, desde muito cedo, um invulgar talento musical. Foi levado à corte pelo seu pai em 1874, tendo obtido, a partir dessa data, a protecção do rei D. Fernando e da condessa d'Edla. Aos 14 anos concluiu os seus estudos no Conservatório Nacional, onde foi aluno de Joaquim Francisco de Azevedo Madeira e de Francisco de Freitas Gazul. Em Lisboa, celebrizou-se como menino prodígio em concertos públicos que tiveram um eco considerável na imprensa da época.
O jovem Viana da Mota, contando com o mecenato da Família Real, instalou-se em 1882 em Berlim, onde frequentou o recém criado Conservatório Scharwenka. Ali teve como professor, entre outros, fundador da escola, o pianista e compositor Xaver Scharwenka. Na mesma cidade, recebeu, entre 1886 e 1889, aulas privadas de piano e de composição de Carl Schaeffer, membro da Sociedade Wagneriana. O próprio Viana da Mota tornou-se nesta época num wagneriano activo: ingressou na mencionada Sociedade Wagneriana em 1885, começou a frequentar o Festival de Bayreuth no ano anterior e chegou a publicar alguns ensaios de carácter interpretativo sobre a obra do compositor alemão.
Em 1885, Viana da Mota foi um dos últimos alunos de piano de Franz Liszt em Weimar e, em 1887, frequentou o curso de interpretação pianística que Hans von Bülow dava anualmente em Frankfurt. Esta experiência foi decisiva para o pianista português, que em 1896 publicou um pequeno opúsculo com a descrição daquelas aulas. Bülow influenciou profundamente o seu estilo interpretativo, nomeadamente no que diz respeito à execução das obras clássicas, como as de Beethoven, com absoluta fidelidade ao texto. Em 1891 foi ainda aluno particular de direcção de orquestra de Philipp Wolfrum, fundador da Sociedade Bach de Heidelberg.
O pianista e pedagogo
Viana da Mota iniciou a sua carreira profissional em 1886, tendo-a prosseguido de maneira ininterrupta até 1945. Realizou a sua primeira digressão europeia em 1888, acompanhando o violinista Pablo Sarasate em Copenhaga e Helsínquia e o violinista Tivadar Nachez em Moscovo e S. Petersburgo. Até 1893, desenvolveu uma intensa actividade como intérprete, destacando-se os numerosos recitais em que acompanhou alguns dos mais importantes cantores da época. Em Abril desse ano fez a sua primeira grande digressão em Portugal, onde não tinha tocado desde o seu concerto de despedida em 1882. Apesar de ter fixado a sua residência em Berlim, Viana da Mota apresentou-se regularmente em Portugal, principalmente em Lisboa e no Porto. O pianista fez a sua primeira digressão americana em 1892, ano em que visitou Nova Iorque. Ali conheceu Ferruccio Busoni através de Arthur Friedheim, também aluno de Liszt. Busoni e Viana da Mota tornaram-se amigos, tal como testemunha a interessante correspondência trocada entre ambos, recentemente traduzida e publicada em Portugal. Viana da Mota tocou pela primeira vez no Brasil em 1896, numa digressão com o violinista Bernardo Moreira de Sá. Voltou várias vezes à América do Sul, tendo sido muito aplaudido nos seus recitais em Buenos Aires, uma das cidades onde se apresentou mais vezes em público.
A grande maioria das críticas publicadas ao longo da sua carreira assinalaram a solidez, clareza e limpidez da sua técnica, o brilho do seu toque e o rigor das suas leituras das obras dos mestres clássicos. Destacou-se como intérprete das obras de Liszt, Bach e Beethoven, tendo sido um dos pianistas que teve no seu repertório a integral das sonatas deste último. No entanto, as suas leituras de obras de compositores modernos (Debussy ou Falla, por exemplo) foram também unanimente elogiadas. Foi o primeiro pianista português a tocar em Lisboa as trinta e duas sonatas para piano solo de Beethoven na mesma série de concertos em 1927 no salão do Conservatório Nacional assinalando o centenário da morte do compositor. Apenas Florinda Santos e Artur Pizarro voltaram a realizar o mesmo feito em Portugal, algumas décadas depois. Viana da Mota foi também director musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa entre 1918 e 1920, sucedendo a David de Sousa, e fundou em 1917 a Sociedade de Concertos de Lisboa.
Viana da Mota publicou regularmente artigos sobre a técnica e interpretação pianísticas, sendo de destacar os seus estudos sobre a execução dos ornamentos na obra de Bach e de Beethoven. Publicou ainda, a partir da mesma data, estudos sobre a música dos compositores Wagner e Liszt. Leitor incansável de literatura e de filosofia, a sua extensa biblioteca conserva-se actualmente na Fundação Calouste Gulbenkian. Para além de exercer a crítica musical, Viana da Mota escreveu, a partir de 1897, numerosos artigos, actualmente dispersos em revistas especializadas alemãs e portuguesas. Assinou, ainda, os seguintes volumes: Nachtrag zu Studiem bei Hans von Büllow von Theodor Peiffer (Berlim, 1896; do qual existe tradução inglesa); Pensamentos extraídos das obras de Luís de Camões (Porto, Renascença Portuguesa, 1919); Vida de Liszt (Porto, Edições Lopes da Silva, 1945); e Música e músicos alemães, 2 vol.s Coimbra: Coimbra Editora, 1947).
Entre 1900 e 1905, desenvolveu uma intensa actividade como professor em Berlim, onde recebia os alunos que Eugen d'Albert, outro discípulo de Liszt, não podia atender por falta de tempo. Com o início da Primeira Grande Guerra, perdeu o visto para permanecer na Alemanha, tendo aceite um convite para leccionar na Escola Superior de Música de Genebra, sucedendo a Bernhard Stavenhagen, que também tinha sido aluno de Liszt. Em 1917 regressou definitivamente a Lisboa para assumir a direcção do Conservatório Nacional. Nesse cargo, que ocupou entre 1918 e 1938, coordenou, juntamente com Luís de Freitas Branco, uma reforma curricular que contemplou a introdução de novas cadeiras de música e cultura geral. Foi professor, entre outros muitos, dos seguintes pianistas: Elisa de Sousa Pedroso, Campos Coelho, José Carlos Sequeira Costa, Luiz Costa, Maria Helena Sá e Costa, Maria Cristina Lino Pimentel, Maria Antoinette de Freitas Branco, Nella Maissa e Maria da Graça Amado da Cunha, assim como do compositor Fernando Lopes-Graça.
O compositor
Viana da Mota dedicou-se à composição durante aproximadamente duas décadas, entre 1881 e 1905. A maior parte dos seus autógrafos e das primeiras edições das suas obras conserva-se no Centro de Estudos Musicológicos da Biblioteca Nacional de Lisboa. As suas composições podem agrupar-se, primeiramente, em três grupos que se correspondem com outras tantas fases criativas. O primeiro integra obras de infância, escritas para piano entre 1875 e 1883. Algumas delas foram editadas e reflectem os gostos da época. Trata-se de marchas, peças de baile (mazurcas, valsas, polcas, etc.), pequenas peças, variações e fantasias sobre temas populares de óperas. O segundo grupo de obras, compostas entre 1884 e 1895, coincide maioritariamente com o seu período de formação na Alemanha e inclui peças para piano, Lieder e várias composições instrumentais nos géneros clássicos. Neste grupo pode ser incluída, seguindo critérios cronológicos, a Fantasia dramática (1893) para piano e orquestra, que se insere na tradição lisztiana, tanto no uso de um programa poético, concebido pelo compositor, como na sua vertente virtuosística. A obra foi escolhida como carta de apresentação para a sua primeira digressão portuguesa. Baseia-se num programa de influência sebastianista, concebido pelo próprio compositor, que narra um processo de libertação da tirania e da angústia pessoal graças à chegada de um providencial rei salvador.
O terceiro núcleo de obras, compostas entre 1893 e 1908, caracteriza-se pelo recurso à canção tradicional portuguesa e é principalmente constituído por peças para piano, entre as quais podem ser referidas as Rapsódias portuguesas (1891-1893), os três cadernos de Cenas portuguesas (ca. 1893, 1905 e 1908) e a Balada op. 16 (1905). Pode distinguir-se um quarto núcleo de obras, escritas entre 1893 e 1897, que reflectem de maneira mais elaborada um programa nacionalista, constituído pelas Canções portuguesas op. 10 (1893-5), a Sinfonia à Pátria (1894; revista em 1920) e a Invocação dos Lusíadas (iniciada em 1897; concluída em 1915 e revista em 1938). Viana da Mota abandonou quase por completo a composição a partir de 1908 em parte pelo seu desacordo com as novas tendências modernistas que se generalizavam por toda a Europa.
As suas pequenas peças pianisticas manifestam uma adaptação à técnica do instrumento que proporciona um efeito brilhante. Tiveram uma boa aceitação na época, como o provam as numerosas edições de algumas delas, e eram usadas habitualmente pelo pianista como encores nos seus recitais. As suas composições nos géneros clássicos, já referidas, realizadas sob a orientação de Carl Schaffer, apresentam uma sólida concepção, mas dificilmente podem ser considerados para além de primeiras tentativas no domínio da composição. As suas obras para voz e piano sobre textos de autores alemães (muitos deles destinados à sua primeira esposa, a cantora Margarethe Lemke, ou dedicados a outras cantoras que Viana da Mota acompanhou como pianista) constituem exemplos de Lied, tal como era cultivado na época na Alemanha. É de destacar o papel dado ao piano pelo compositor e o cuidadoso tratamento do texto.
A recepção da Sinfonia à Pátria
A importância de Viana da Mota para a cultura portuguesa prende-se com o seu papel como compositor nacionalista, podendo ser considerado o pioneiro da ideologia do nacionalismo no âmbito da composição. Viana da Mota distinguia claramente as obras em que a música tradicional era usada como elemento pitoresco – ou de “cor local” – e aquelas que perseguiam um objectivo programático de carácter nacionalista, tal como se evidencia nas seguintes palavras: “Talvez a canção popular seja o melhor caminho para chegar à alma do povo, mas terá então que encontrar-se a própria expressão para o sentimento da nação. E este é o mais alto ponto de vista.” A Sinfonia «À Pátria», a obra mais conhecida do compositor, pode ser considerada o modelo daquilo em que Viana da Mota estava a pensar quando escreveu a anterior afirmação. Foi dada em primeira audição em Lisboa em 1894 no Salão Neuparth, numa redução para piano realizada e interpretada pelo compositor. Foi, portanto, o próprio Viana da Mota quem proporcionou inicialmente aos críticos o programa da sua obra, o qual foi amplamente divulgado.
Em 1896, António Arroyo escreveu um artigo elogiando Viana da Mota para a revista Amphion, onde a composição foi assim descrita: “A Sinfonia em lá maior Á Pátria é uma página de um elevado simbolismo, uma síntese luminosa e profundamente sugestiva dum momento histórico determinado; o autor, representando o momento de crise em que a pátria parece soçobrar, fá-la ressurgir de novo para uma vida gloriosa num como rejuvenescimento da alma nacional. Ela divide-se em quatro tempos, os da forma clássica do modelo beethoveniano, tendo cada um a sua significação própria”. Isto é, a sinfonia foi saudada como uma síntese entre as “obras mais avançadas do seu tempo” e a “forma clássica do modelo beethoveniano” e como a expressão das circunstâncias históricas que atravessava a Pátria. Esse programa foi também difundido por António Arroyo através da seguinte descrição: “o autor, representando o momento de crise em que a pátria parece soçobrar, fá-la ressurgir de novo para uma vida gloriosa num como rejuvenescimento da alma nacional”. Um ano depois, em 1897, a mesma revista Amphion publicou a crítica da estreia orquestral da obra, mantendo os elogios e voltando a insistir no significado do programa da obra: “gerada sob o critério da moderna escola alemã, caracterizado pela forma do Poema Sinfónico e por todos os processos da música expressiva; cada um [dos seus] tempos traduz uma página de emoção diversa; no 1º tempo (Allegro heroico) formulou o autor a invocação às Tágides, contida nos versos do nosso Épico; no Adagio simboliza o lirismo português; no Scherzo pinta-nos o nosso povo numa cena de danças e cantigas nacionais; e no Final a página dramática da obra, descreve-nos a Decadência da pátria, a Luta na crise e o Ressurgimento resultante dessa luta.”
No dia 21 de Maio de 1897, uma orquestra de noventa instrumentistas dirigidos por Moreira de Sá tinha apresentado no Salão Gil Vicente do Palácio de Cristal, no Porto, a sinfonia de Viana da Mota juntamente com as seguintes obras: uma selecção das Variações sobre um tema popular brasileiro «Vem cá Bitú» do compositor paulista Alexandre Levy orquestradas por Moreira de Sá; o poema sinfónico Ave Libertas de Miguéz; as Cenas nas estepes da Ásia Central de Borodin; e, por último, o prelúdio do terceiro acto de Lohengrin, de Wagner. Nacionalismo e o modernismo wagneriano juntam-se no programa, onde se destaca a comunhão de objectivos partilhados pelo compositor português e seus colegas brasileiros. Assim, as Variações sobre um tema popular brasileiro foram escritas pelo jovem Levy antes da sua ida para Paris com o intuito de concluir a sua formação musical. Fazem parte de um consciente programa nacionalista, cujo objectivo era a criação de uma música caracteristicamente brasileira a partir da música popular. O poema sinfónico Ave Libertas, por seu turno, foi composto para comemorar o primeiro aniversário da República Brasileira. Torna-se difícil admitir que a reunião destas três composições no mesmo programa e num local, o Salão do Palácio de Cristal, um optimista símbolo arquitectónico do progresso da cidade, obedecesse ao acaso.
Um precursor da figura do músico-intelectual
Na Alemanha, Viana da Mota apropriou-se de uma nova forma de entender a música, que ia muito para além do meramente decorativo. O respeito pelo legado da história, representado na obra de Bach e de Beethoven, e a necessidade de procurar ligações com o resto das artes e com a filosofia, na esteira do wagnerismo e do magistério de Liszt, definiram a sua personalidade artística em proporções equivalentes. Viana da Mota teve o mérito de introduzir em Portugal, no âmbito da música, uma concepção elitista da Arte como “actividade superior do espírito”, baseada na reflexão e no aperfeiçoamento constante da sua própria actividade enquanto músico. Foi um precursor em Portugal do modelo de músico-intelectual. Mais ainda, foi um dos poucos artistas portugueses cuja carreira teve verdadeira projecção internacional. Se o seu legado interpretativo não é, hoje em dia, ainda mais evidente é apenas por causa do número muito reduzido de registos sonoros das suas apresentações que chegaram até nós. Fica aqui o desejo de que pesquisas ulteriores nos descubram novos tesouros que testemunhem a sua arte, aplaudida ao longo de décadas nas principais capitais de Europa e da América.
Discografia
A melhor aproximação à arte de Viana da Mota será, sem dúvida, através da escuta dos registos disponíveis das suas próprias interpretações. A maior parte deles não são, porém, actualmente fáceis de conseguir. Foram editados em 1995 pela etiqueta Dante que, entretanto faliu. Esta gravação (Dante HPC 028) inclui obras para solo piano da autoria de Busoni, Schubert, Chopin e Liszt, para além de peças do próprio compositor. São gravações realizadas por Viana da Mota para a casa Pathé por volta de 1927 e inclui, ainda, o Duettino concertante nach Mozart, de Busoni, tocado juntamente com uma das suas alunas (Mlle. Castello Lopes). O CD apresenta também uma interpretação ao vivo da Totentanz, de Liszt, realizada em 1945 juntamente com a Orquestra Sinfónica Nacional sob a batuta de Pedro de Freitas Branco. “Égloge” dos Années de pèlerinage está também incluída no volume “The Pupils of Liszt” (Pearl 9972). A antologia “Great Pianists on Piano Rolls” contém Polacca brillante op. 72, de Weber, numa execução realizada por Viana da Mota em 1905 (Phonographe Records 5027).
É mais acessível a gravação de uma representativa selecção das suas composições para piano (editada em 2001 em CD) na interpretação do seu discípulo José Carlos Sequeira Costa (Marco Polo 8225116). Entre outras obras contém a Balada op. 16, da qual existem disponíveis mais três versões pelos pianistas António Rosado (PortugalSom 860018), Artur Pizarro (Hyperion A 67163) e Sofia Lourenço (Numérica 1077). As gravações de António Rosado e Artur Pizarro estão exclusivamente dedicadas à música de Viana da Mota. A primeira é um recital de piano solo que contempla duas peças não incluídas no CD de Sequeira Costa e a segunda reúne o Concerto em lá maior e a Fantasia Dramática, interpretados estes por Pizarro juntamente com a Orquestra Gulbenkian e com direcção musical de Martyn Brabbins.
A soprano Elvira Archer e o pianista Anton Illenberger gravaram nos anos 80 uma importante selecção das obras para vocais do compositor, em resultado do trabalho de pesquisa desenvolvido pela mencionada cantora em torno deste repertório (PortugalSom 870009). Contém canções sobre textos de poetas alemães, italianos e portugueses compostas entre 1883 e 1893.
Existem três versões diferentes da Sinfonia à Pátria. Duas delas foram editadas pela PortugalSom e interpretadas, respectivamente, pela Orquestra Sinfónica da RDP dirigida por Silva Pereira e pela Orquestra Sinfónica do Estado Húngaro sob a batuta de Mátyás Antal (Portugalsom CD 870016/PS e SP 4117). Mais recentemente, Mario Mateus, à frente da Orquestra Filarmónica de São Petersburgo, gravou a sinfonia juntamente com a abertura Dona Inês de Castro, que nunca tinha sido registada anterioriormente (Northern Flowers 9938). Por último, no capítulo da música orquestral, foi também editada uma gravação do Vito, incluída no volume 12 da colecção Edição Pedro de Freitas Branco (PortugalSom 4116).

Biografia publicada pelo Instituto Camões